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UM POUCO DE EXPERIÊNCIA SOBRE TCC E UM ABRAÇO

Foto do escritor: Ma. Viviane RodriguesMa. Viviane Rodrigues

Este post tem duas intenções. A primeira é falar um pouco sobre minha experiência no TCC para as minhas/meus acadêmic@s que andam meio desesperad@s. A segunda é dar um abraço no meu ex-aluno fofo e querido, Antonio Lopes.

Em 1996 eu e meu colega, Marco Aurelio Silva, fizemos nosso TCC que se chamou "Drag Story Lenda e Babados". O vídeo, que trazia várias drags de Florianópolis e Balneário Camboriú (Vogue Star, Betina Rockfeller, Tina Túnel, Ceia Pentelhuda, Lilica Repilica, Giovanella, entre outras) foi uma das primeiras manifestações sobre drag queens em audiovisual no Brasil, e participou de várias exibições, como no Festival Mix Brasil, além de receber menção honrosa no prêmio Pierre Verger, da Associação Brasileira de Antropologia.

Pois bem, para fazê-lo tivemos que driblar a coordenação do curso de Jornalismo da UFSC, que estava a cargo de pessoas - alguns teóricos muito conhecidos hoje, inclusive - que odiavam (mesmo!) os comunicólogos. É importante dar um painel da situação. A gente ouvia as gritarias e as baixarias dos conservadores (apelidados de CTG), nas reuniões do colegiado, contra os professores chamados de "Pós-modernos" - gente altamente qualificada e progressista, com doutorado em Sorbonne, na Universidade de Cinema de Nova Iorque e que depois foi agraciada com prêmios na França e na Inglaterra por serviços prestados a pesquisa, etc ).

Ficávamos lá, sentad@s na escada, ouvindo discursos à Bolsonaro da boca de alguns docentes, contra os "pós-modernos". Sempre achei que este pessoal, o do "CTG", tinha uma noção muito obtusa sobre Jornalismo e Comunicação, além da violência reacionária. Um deles, ao entregar os textos e trabalhos corrigidos, bradava, antes de chamar o nome d@s acadêmicos: "Quem foi o imbecil que escreveu isso aqui?" ou "Mas como um analfabeto chegou na faculdade?".

Então , vejam que, naquele momento, o nosso trabalho, um documentário, com inspiração teórica nos filmes de Eduardo Coutinho e nas aulas que tivemos com a maravilhosa Consuelo Lins, gente "Pós-moderna", segundo el@s, hoje consagrados pensadores e realizadores de documentação e documentação subjetiva no país - e também o projeto de outr@s estudantes , não eram nada bem-vindos por conta, exatamente, da noção de produção jornalística e do papel do jornalismo que a maioria do colegiado possuía.

Os confrontos por conta dos temas com acadêmic@s - alguns quase violentos, com professores levantando da cadeira e fechando o punho contra estudantes - eram constantes. mesmo porque a disciplina de pré-projeto, era ministrada por um membro do "CTG", estrategicamente colocado na disciplina. Se você queria estudar sobre um tema mais progressista ou que fugia ao que el@s acreditavam ser Jornalismo: você reprovava. Era simples.

Sendo assim, eu e meu colega, fizemos pré-projetos completos para serem aprovados , com temas que apetecessem @s cidadãs/cidadãos, e produzimos ainda um outro, em conjunto, que el@s não sabiam que iria ser realizado. Então, a gente fez dois projetos em quatro meses. Tivemos, então, outros quatro, na disciplina de TCC, para preparar um documentário e um relatório de 40 páginas, com uma bibliografia ainda exígua, lendo autores de Filosofia, Sociologia, Antropologia, orientados por uma "pós-moderna", claro, fazendo ilações, mil reflexões; sem contar com a web - ainda em expansão - e com o equipamento de filmagem que só podia ser manuseado pelo técnico da instituição, em horário comercial.

Todo o deslocamento externo dos técnicos era pago por nós e não era possível gravar a noite... Imagine, onde a gente ia arranjar drags que trabalhassem de dia? Corremos então atrás de todo o tipo de material extra, gravados por outras pessoas, em outros eventos - como o carnaval do Roma, uma festa LGBT inacreditável no centro de Florianópolis, que reunia milhares de pessoas - para poder ter outras imagens, além de emprestar a câmera de um colega, porque não era, também, coisa que se conseguisse com facilidade. Também vimos e decupamos dezenas de filmes do qual podíamos ter imagens.

Ah, claro, tudo era gravado em fitas Betacam e como a UFSC foi uma das primeiras instituições de ensino a ter uma ilha de edição não-linear, transformávamos o material que queríamos aos pedaços a partir das fitas - decupado em vários cadernos, muito organizados - para arquivo digital - porque não dava para jogar tudo dentro da máquina por conta da memória - para então, poder ser editado na hora. Muita madrugada na UFSC junto do técnico, que era "gente boa".

E nem vem com história, porque para estudar eu morava com a minha avó que era acumuladora e com meu tio, diagnosticado com esquizofrenia e, embora eu os amasse muito - ambos já desencarnaram - e tenha uma gratidão imensa por tudo o que me proporcionaram, não foi nada fácil. Então, minha gente, fazer TCC é sempre uma história de dificuldades e superações. Qual vai ser a sua? Como você vai contá-la? Não façam drama e produzam! "Can I get an amen?". :)

Quanto a você, meu querido Antônio, falei disso tudo antes de me referir a você, porque não há a menor razão para se envergonhar... Viu? Eu te garanto ;)

PS: Fotos minhas e de Marco Aurélio Silva.


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