Se você viajar pelo sul do Brasil, entre abril e julho, vai observar, ao longo da rodovia, dezenas de barracas que oferecem pinhão cozido ou na pinha.
Você sabia que existe uma grande variedade do que se pode chamar de pinhão? Eu descobri que alguns são pesquisados para a produção de biodiesel, por exemplo, que outros têm usos medicinais e alguns possuem muito valor para a indústria da beleza.
O pinhão que nasce aqui nos três estados irmãos do sul – mas também em algumas poucas regiões de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais – faz parte da nossa dieta outonal graças às populações indígenas.
Eu fico imaginando a esperteza da índia ou do índio que descobriu que dentro daquela armadura cor-de-barro quase maciça de fibras, havia bem guardada, uma semente dura que depois de passar pelo fogo, se tornava macia e saborosa.
Há seis mil anos atrás, o pinhão era de grande importância na alimentação daquelas tribos, tanto que, para conservar as sementes mais tempo, os engenhosos Kaigangs guardavam os pinhões sob várias camadas de argila. Os primeiros cidadãos brasileiros costumavam assar os pinhões nos galhos e folhas secas das araucárias.O hábito foi absorvido pelos tropeiros que nomearam a queima como sapecada de pinhão.
A semente que faz sucesso por aqui pertence a uma árvore bem brasileira, o pinheiro, que tem uma forma superinteressante de fazer o delivery do produto.
O pinhão – que me lembra um foguete – tem em média quatro centímetros de comprimento e se forma dentro da pinha, uma esfera compacta e revestida de espinhos, com diâmetro entre 15 e 20 centímetros.
A pinha é um exemplo de funcionalidade para qualquer designer. Dentro dela os pinhões encaixados se espremem até a maturidade, quando a pinha vai eclodir e espalhar as sementes tão cheias de importância, que, se não forem alimentar as dezenas de espécies que se nutrem dela, vão gerar novas árvore.
A colheita e venda do pinhão é regulada já que, como a árvore se encontra em extinção, é preciso também garantir que os animais que dependem profundamente da semente, possam se alimentar e realizar o processo de regeneração da mata.
Eu gosto de comer pinhão fresco, novinho – com as pontas ainda meio verdes e o marrom pintando a carapaça em um tom mais claro – no almoço. Ao lado das carnes, arroz e feijão, vai o pinhão, simplesmente cozido, ou quem sabe, irmanado do bacon, no forno, fazendo um par imbatível. Gosto também de picar ou ralar a semente, juntá-la a fritura no shoyo de uma cebola cortada fininha em rodelas , e voilá, o pinhão é ingrediente também do hambúrguer.
Na verdade são vários os produtos a base de pinhão. Pesquisas estão desenvolvendo snacks e chips, além de barras de cereais. Já existem cervejas produzidas a partir da semente. A casca é pesquisada por universidades brasileiras porque possui a capacidade de remover de rios, por exemplo, materiais tóxicos da indústria têxtil.
O pinhão é polivalente na cozinha, na indústria e ainda é fonte de renda extra para as famílias que vendem as preciosas sementes nas rodovias brasileiras. Além de claro, delicioso :) .
* Publicado anteriormente no blog do meu projeto "Viageiras".