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MITOS QUE REGEM A COMPREENSÃO HUMANA, SEGUNDO FÉRRES

Foto do escritor: Ma. Viviane RodriguesMa. Viviane Rodrigues

Atualizado: 29 de jun. de 2021

A partir do livro super-legal de Joan Férres "TELEVISÃO SUBLIMINAR".


Autor de inúmeras livros, o espanhol Joan Ferrés é pedagogo e especialista em Educação em Comunicação Audiovisual e professor da Universidade Pompeo Fabra (UPF) em Barcelona.


Meus alunos e minhas alunas de Comunicação sempre acabaram lendo este autor, que provoca várias reflexões sobre como pensamos e acreditamos. No livro Televisão Subliminar, de 1998, ele pensa sobre os efeitos socializadores que a televisão possui. Para entendê-la é preciso pensar como agem os mecanismos da mente e do inconsciente, como a ideia de lógica e racionalidade possuem um papel supervalorizado e como, na verdade, são as emoções que dominam o inconsciente e mediam as comunicações de forma despercebida. Vou ilustrar apenas os mitos refletidos pelo autor.



O MITO DA LIBERDADE HUMANA

Para ser livre não basta que não soframos nenhum tipo de coação física.

É preciso que sejamos livre e capazes de optar. A liberdade é nossa capacidade de validarmos crenças e termos comportamentos autônomos, independentes. Estes são fundamentados em convicções e menos em imitações, na reflexão, no doutrinamento , na emoção, com consciência e autocrítica.


Não se pode falar em liberdade quando se permite fazer o que se deseja, mas se leva a desejar o que interessa que se deseje. Sam Keen (1994, p. 132), “toda cultura é uma conspiração para convencer seus membros para que adequem seus desejos ao que se considera correta e bom".

O MITO DA RACIONALIDADE HUMANA

A ingênua e quase infantil convicção de que somo muito mais razão que emoção, que existe uma primazia da razão sobre o sentimento. No entanto, atuamos todas e todos movidos por impulsos inconscientes, nada racionais. O mito existe porque não leva em consideração a dualidade de nosso caráter e todas as nossas contradições, que são consequência dos conflitos entre a emoção e a razão, entre o desejo e o pensamento.



Conspiração das emoções


São muitas as pesquisas que demonstram que as emoções burlam com facilidade até nossa racionalidade. Exemplo do livro: Pessoas bonitas e atraentes tem mais chances de serem perdoadas ou terem penas mais leve em casos criminais.




Os processos da racionalização

Nossa consciência não pode suportar uma excessiva falta de lógica. Por isso, tantos programas policiais dissecam serial killers: precisamos saber a razão. O autor diz que mesmo quando as decisões humanas são tomadas com base na emoção, a necessidade de sermos racionais nos leva, inconscientemente, a buscar por razões lógicas, racionalizadas e a indicá-las como motivo da escolha. É um mecanismo de defesa.



O MITO DA CONSCIÊNCIA HUMANA

Vivemos na ingênua convicção de que controlamos conscientemente nossas decisões e crenças. A consciência é uma capacidade humana, mas com mais frequência do que imaginamos, agimos movido por estímulos ou impulsos inconscientes.




O mito da percepção objetiva

As percepções humanas são menos objetivas, racionais e conscientes do que se imagina. Perceber é antes de tudo selecionar e interpretar. O torá já diz: "não vemos as coisas como são, vemos as coisas como somos". Nunca podemos esquecer que a percepção da realidade está condicionada a cultura e as nossas emoções.


Na vida cotidiana, tende-se a considerar que o que alguém percebe é necessariamente autêntico (“vi com meus próprios olhos”). Esquecemos que fatores cognitivos exercem, uma influência determinante nas informações que chegam as áreas visuais. É a mente que realiza a operação de estruturar as formas, conferindo-lhes significação. Para compreender o quanto pode ser "impreciso", inclusive fisiologicamente como vemos, temos que pensar nas estruturas de nossos olhos, do nosso cérebro.



O vídeo acima pode parecer, entre outras coisas, incoerente e meio bizarro, mas ele mostra como nosso grau de atenção é baixo e imperfeito ao ponto que pode ser manipulado.


Os psicólogos Daniel J. Simons e Christopher F. Chabris, da Universidade de Illinois, queriam mostrar, exatamente, a seletividade de nossa atenção. Eles realizaram testes e um deles era um vídeo e consistia de seis pessoas divididas em duas equipes (uma branca e uma preta), trocando passes com duas bolas de basquete e para cada uma havia condições experimentais. Os participantes deveriam contar os passes que uma das equipes realizava. Os resultados obtidos foram que de 192 participantes, 54% perceberam o evento inesperado e 46% falharam em notar o evento. Ou seja, quase metade dos participantes não perceberam um evento saliente e inesperado enquanto estavam envolvidos em uma tarefa de monitoramento.

Uma das conclusões dos autores é que objetos podem passar pela extensão espacial do nosso foco de atenção e mesmo assim não serem “vistos” se eles não forem especificamente focados (SIMONS; CHABRIS, 1999).



Bibliografia:

FÉRRES, Joan. Televisão subliminar: socializando através de comunicações despercebidas. Porto Alegre: Artmed, 1998.


Aqui, uma entrevista com Joan Ferrés que foi dada a minha colega de mestrado, Laura Seligman.


* Este post faz parte do ensaio: A CIDADE DAS MULHERES MORTAS: A VIOLÊNCIA REITERADA CONTRA AS MULHERES NA PRODUÇÃO FÍLMICA E SERIADA. Ele será publicado na obra coletiva 15 anos da Lei Maria da Penha: Avanços e Desafios (Coordenadores: Bruna I. Simioni Silva; Larissa Ribeiro Tomazoni e Paulo Silas Filho).


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