Candidatos fascistas, ricos e populistas; transumanismo; colapso da economia e do meio ambiente; guerra entre Rússia e Ucrânica e bomba nuclear em território chinês: em Years and Years , série criada por Russell T. Davies e uma produção conjunta da BBC e da HBO de 2019, vemos o mundo, em sua agonia final, sem que tenhamos qualquer esperança de que realmente acabe – e pior, quando se repetem, as novas velhas mazelas a cada novo ano.
Mas, ainda há esperança.
A série narra a história da família Lyons – uma ninhada relativamente feliz de irmãos adultos e sua robusta avó nonagenária, Muriel (Anne Reid), que vive em Manchester. Eles e elas enfrentam uma série de contratempos emocionais e danos colaterais, enquanto a Grã-Bretanha sucumbe a uma onda populista, após a ascensão de Vivienne Rook (Emma Thompson), uma empresária que virou política e é celebrada por suas opiniões escandalosamente nacionalistas e xenófobas.
O neto mais velho, Stephen, é um rico banqueiro branco de Londres que é casado com Celeste, uma contadora afrodescendente, com quem tem duas filhas adolescentes; Rosie, é mãe solteira da classe trabalhadora branca com espinha bífida que possui um filho com etnia asiática que é trans e o outro com problemas comportamentais; o neto mais novo, o afetuoso Daniel, é um funcionário que trabalha com imigrantes que deixa o marido - ao descobri-lo anti-máscara e terraplanista - por Viktor, um refugiado ucraniano e morador da instalação que ele supervisiona. A quarta Lyons, Edith, é uma ativista pelos direitos humanos, itinerante que, já no primeiro episódio, testemunha a explosão de uma bomba atômica, enquanto sua família acompanha a tragédia pela TV.
O melhor de Years and Years é conseguir unir a narrativa distópica de um futuro próximo a intimidade calorosa de um drama familiar - com personagens interpretados de forma impressionante. O que torna a série eficiente e intensa de se degustar, é, exatamente que, o horizonte que ela prospecta se encontra logo ali. Não são 50 anos, são 13: divididos caprichosamente.
Entre 2019 e 2032, a carismática falsa feminista, Vivienne Rook, cujo cartão de visita é dizer coisas rudes em talk shows porque está apenas verbalizando "o que todo mundo pensa!”, passa de desconhecida a celebridade viral fascista - com todas as consequências que isso acarreta a uma sociedade. Em um dos episódios, ela explica a empresários como os primeiros campos de concentração foram criados - e como deram certo - ao leiloar o direito de administração do que ela chama de "Instituições para Refugiados", o local para onde Imigrantes ilegais e dissidentes políticos são enviados para morrer.
A justaposição do épico e do mundano também faz a série vigorosa. É quase um diagnóstico de uma espécie em crise existencial que todas e todos estamos vivendo, embora pareça que cada momento de angústia ou pânico desapareça segundos após seu registro em nosso cérebro, em uma constante naturalização da inevitabilidade da nossa extinção.
Apesar de tudo, o que marca a produção, de todas as polêmicas, é a sagacidade, o humor e a ternura, além de uma história de amor idílica. Como diz a avó Muriel: "eu sei que é um mundo terrível, terrível, mas quero ver cada segundo dele”. Você pode se reconhecer em “Years and Years" e em tudo que a família Lyon vive.
É imperdível e está na HBOMAX.
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